Oficial encarregado de conferir e verificar os títulos de nobreza, de declarar a paz ou a guerra e de fazer proclamações solenes.

20070211

HOJE TIVE TEMPO...!

O fim do dia está cinzento e frio, estranho o meu sentir, normalmente é solidário com este tempo, mas hoje sinto-me cheio de sol, o meu caminhar é leve e apetece-me a andar, vagueio pelas ruas e sem me aperceber dou comigo a saudar as pessoas, algumas correspondem, outras estranham, mas eis que uma olhou com desdém e desconfiada, depois de nos cruzarmos, ambos olhámos para trás, brindei-a com um sorriso, sentiu-se incomodada e praguejou uns palavrões, continuei como se nada fosse comigo, reflecti de imediato, não estava na terra dos meus pais, aonde a ofensa é a falta de saudação, fico triste pois era lindo que o mesmo acontecesse na minha cidade. Todos somos tão impessoais, conhecemo-nos de nos vermos em diversos sítios e continuamos fechados em nós e só no estrangeiro num encontro casual é que quebramos esse tabu e trocamos umas palavras de circunstância (o senhor/a não é de Aveiro…eu conheço/a de lá, a gente vê-se tantas vezes…Veja lá! Tão longe conseguimos falar, o que nunca aconteceu em tantos anos a cruzar-nos quase todos os dias…). Como é diferente a terra dos meus pais, todos nos saudamos, à falta de pessoas até os animais que passam por nós merecem a nossa atenção e quase sempre os presenteamos com uma carícia ou um susto matreiro. A indiferença está abolida naquelas mentes, seria insuportável para todos, penso que mesmo os animais estranhariam a falta de comunicação, fosse ela matreira ou carinhosa. Absorvido com estes pensamentos, ergo a cabeça, deixo que o frio fustigue o meu rosto, a escuridão da tarde tenta invadir-me mas não deixo, penso nas gentes da minha terra e imagino-as a saudarem-se todas, bom dia, boa tarde, boa noite, um olá, ou um simples sorriso, seria gratificante para todos e todos se iriam sentir mais acompanhados. Esta quimera de sentimentos estava em mim, já homem taciturno e citadino no pior sentido, tinha deixado a costela de serrano (sempre no sentido pejorativo, para nós Aveirenses, mesmo muitos sendo descendentes deles) e vestido a pele de um cidadão introvertido e indiferente, a passar por pessoas de todos os dias, como se não fossem gente, gente da minha terra. Uma chuva miudinha e fria começa a fazer-se sentir, penso que na serra será neve, abrigo-me, o carro está longe, as pessoas sem receio das gotículas geladas passam apressadas, olho a montra que me abrigou e tudo tem luz e brilho, num fim de tarde já noite. Retomo a caminhada em direcção ao carro, faço uma retrospectiva deste dia de “pequenos nadas” que me preencheram, tinha feito coisas lindas por mim, em prol dos outros, vi estampados sorrisos em alguém que já não sabia o que era sorrir, senti gratidão e amor e dei amor. Já no conforto da minha casa, vou ao mundo virtual, confirmo que aquela sensibilidade que me fascinava tanto, era de alguém a quem eu há muito tinha tirado o manto. Estava no fim um dia sem trabalhar, mas tão produtivo, sempre sem tempo, hoje tive tempo, para ter tempo para mim e para os outros.

21 Comments:

Blogger Al Berto said...

Viva Arauto:

Pois eu por mim estive preso o dia todo na mesa de voto da minha freguesia para ajudar no combate ao aborto clandestino.
Faço agora votos para que tenha valido a pena.
Boa semana.
Um abraço,

12:10 da manhã

 
Blogger Pata Irada said...

Arauto

Vim correndo responder a tua pergunta:
Para quando um mundo melhor?

Na verdade encontrei a resposta justamente aqui para te dar.

O mundo será melhor quando mais e mais pessoas souberem dar um sorriso, um bom dia um simples olá. Quando consiguirem sentir que está frio e a chuvinha que cai no rosto faz imaginar a neve que poderá cair lá na serra. Que consideram a sua casa um local confortável, que saibam valorizar os pais e amar a terra onde nasceram.

Simples! O mundo será melhor quando mais pessoas tiverem essa sensibilidade.
Difícil, mas possível.

Obrigada por esse presente.

bjs.

1:27 da manhã

 
Blogger Eärwen said...

Caro amigo,
Saudade é uma palavras que anda a baila no meu vocabulário ultimamente...acho eu que após ler teu texto... ou mesmo saudades de tuas visitas...
Caminhar...olhar a vida, as pessoas, tentar "ser" mais junto. Porém algumas hoje querem o isolamento e não entendo eu bem o motivo.
Mas vim ter aqui movida pela saudade que tenho de ti.
vim deixar-te pérolas incandescentes de carinho amigo e o pedido para que retornes...
Com carinho,
Eärwen
12.02.07

3:31 da manhã

 
Blogger Maria P. said...

Excelente apontamento.

E obrigada pelo teu tempo dedicado e simpático na minha Casa.

Beijo*

9:06 da manhã

 
Blogger Unknown said...

Querido Arauto, que terno o teu post! Ainda bem que existes! Que ainda existem pessoas como tu!
Realmente também eu quando vou à terra dos meus pais ou sogros, cumprimento toda a gente a sorrir. Até os cães levam uma festinha, os gatos um susto, as crianças um beijo... E na cidade conheço tanta gente que vejo todos os dias, que sei o percurso diário que fazem, se estão com boa cara ou má e... nem um olá...
Que bom seria de todos soubessem e dessem um bom dia ao próximo todos os dias!
Bom dia Arauto! Espero que tenhas uma excelente semana!

Beijinhos

9:34 da manhã

 
Blogger Saramar said...

Arauto, lendo este lindo texto, lembrei-me de uma música de Vinícius que começa assim: " se todos fossem iguais a você, que maravilha viver..."

beijo

12:59 da manhã

 
Anonymous Anónimo said...

É isso aí:
Quem anda à chuva molha-se.

7:08 da tarde

 
Blogger Terra e Sal said...

Meu bom Amigo:

Vai-nos surpreendendo e tocando os corações que há muito andam empedernidos...
É verdade que há em muitas terras o bom hábito do cumprimento franco e sincero, ele chega até nós vivo e sério. É um cumprimento de estima, de solidariedade, de disponibilidade, quase de afecto. Sentimos em muitas terras, principalmente no nosso interior que o cumprimento vem do coração, chega até nós com sinceridade, com frescura, e sem mecanização...

Mas o mundo há muito que tem vindo a ser moldado ao individualismo em que, cada um trata de si, e às vezes dos seus.
Vivemos a correr, não temos tempo para cumprimentos e se eles saem, soam a falso, não se conversa nem se dizem duas larachas, o tempo é curto, as preocupações são muitas, nem um café, nem um copo, não há tempo para convivência, só nos importamos connosco, e muitas vezes nem com isso, apenas vivemos para as “necessidades”

Fomo-las criando, são os nossos “amigos”, a nossa convivência do dia a dia, trabalhamos desalmadamente para elas, não temos tempo para mais nada, apenas para satisfazer mais e mais “necessidades” que a sociedade e nós próprios, nos foram “impondo”
E para isso, para as satisfazermos, tornamo-nos agressivos, andamos a correr, não vemos mais nada a não ser isso, e para isso, temos hipotecada ou vendida a vida inteira...

E as “necessidades” são excessivamente exigentes connosco:
É a casa que compramos às prestações, é o carro, e outro carro ainda, são os telemóveis distribuídos a cada um dos agregados familiares, são as férias aos soluços, são os almoços fora ao fim de semana, e mesmo algumas vezes durante a semana, são as roupas de marca, para os filhos, quando não para a mulher também, são as propinas, os estudos em Coimbra, no Porto, ou noutra cidade qualquer, enfim é um infinito de “necessidades” criadas, que nos torna robots, que nos vão martirizando, intoxicando a vida, a alma e a alegria, que sem dar por ela, se vai perdendo...

A disposição para uma coisa tão simples como cumprimentar, ou dar dois dedos de conversa é um pesadelo e uma seca......
Há muito que andamos de uma forma geral zangados com a vida, devagarinho uns, depressa outros, vamo-nos afastando dela, mas andamos iludidos de que vivemos plenamente, que estamos cheios de saúde, e andamos todos doentes...

O nosso corpo lentamente vai transformando-se num túmulo, agastamo-nos nas estradas com os outros, no emprego, em casa, e quantas e quantas vezes somos simpaticamente fingidos, porque estamos enfurecidos por dentro...
A nossa vida, a vida das pessoas, é o mundo que pedra a pedra todos fomos construindo...
Apenas estamos rodeados de matéria que são as necessidades que criamos...
Temos coisas, mas vivemos num mundo sem alegria e pouco amor...
Gostei da sua narração.
Um abraço

7:21 da tarde

 
Blogger PSousa said...

Faz lembrar minha aldeia, onde todos se conhecem e cumprimentam e onde conhecem as virtudes e defeitos de cada um...e isso deixa-me muito feliz.
Um simples Olá é maravilhoso, mesmo de quem não conhecemos..

Bem a propósito este post.

Abraço amigo

10:05 da tarde

 
Blogger Recursos para tu blog - Ferip - said...

♡  ♥Beijos    ♡    ♥Beijos      ♡  Besos     ♥Beijos
Besitos
Beshosshhh ♥Beijos    ♡Muák      ♥Beijos   Besos    ♡   ♥Beijos ♡  
Besucos ...
Tal vez así el mundo cambie un poquito para bien!
Feliz día, amigo.

11:22 da tarde

 
Blogger Nuno Q. Martins said...

Caro Arauto

A blogosfera, tal como a vida, volta e meia e às vezes nem tanto, reserva-me pequenas contrariedades que, apesar de não terem significado, são capazes de me tirar do sério.

Imagine que eu já tinha comentado o seu brilhante post e quando cliquei no botãozinho para publicar, isto eclipsou-se e lá se foi o comentário...
Fiquei pior que estragado. Não é que tenha dito alguma coisa de jeito, que não disse. Mas reproduzir agora é mais difícil.

No meu texto que se eclipsou, felicitava-o pela capacidade de tão bem transmitir um sentimento que nos é comum, embora reconheça que sou bastante limitado no que toca a escrever e descrever sentimentos. Trouxe-nos uma questão que também já me fez reflectir muitas vezes. Já reparou, quando estamos numa sala de espera qualquer, a gramar com as revistas cor-de-rosa de há meio ano atrás, o agradável que seria aproveitar esses tempos mortos para conhecer pessoas, dialogar com elas...

Continue a partilhar esses sentimentos tão puros e estou convicto que se sentirá realizado todos os dias. Mesmo nos tempos mortos, sentimos que ganhamos algo.

Abraço.

1:16 da manhã

 
Blogger Luís said...

... e esse tempo é o melhor tempo que se aproveita do tempo.

5:01 da tarde

 
Anonymous Anónimo said...

Olá, boa noite Arauto (da Ria),

Já por cá tinha passado mas sem conseguir comentar.

Sobre o tema que nos apresenta, conheço esse sentimento. O que é sentir-nos bem porque esboçamos um sorriso, um cumprimento com um aceno de cabeça, um olá ou um "como tem passado" a alguém que já não víamos há algum tempo.
As pessoas (os outros) ficam felizes e fazem-nos sentir bem também.

Já experimentou parar, mesmo que por alguns minutos, junto de um ou mais idosos daqueles que passam o tempo sentados num banco à espera que alguém os oiça?

Que bom seria que os nossos jovens tivessem sido ensinados a parar de vez em quando e ouvir o que esses (mais velhos) têm para lhes ensinar!
E olhe que não precisamos de ir para as aldeias para que tal aconteça. Mesmo por aqui, juntinho a nós, encontramos diariamente muitas pessoas que, talvez por timidez ou hábito, aguardam apenas pelo nosso primeiro passo para nos encantarem com as suas histórias e sentirem-se mais úteis e menos "farrapos humanos" abandonados.

Este é mais "aquele" texto lindo, de alguém com sentimentos muito nobres e que são tão raros nos dias de hoje.

Parabéns e obrigada.

10:43 da tarde

 
Anonymous Anónimo said...

Arauto,

Talvez não tenha conseguido expressar-me devidamente. Sei que para além de outros pormenores importantes, o seu texto fala de sorrisos, de arranjar tempo para parar, "olhar", sentir-se feliz e dar um pouco de felicidade aos outros.

Acontece que, embora passe a vida a correr, tenho por hábito (mesmo por aqui, por Aveiro) parar, sorrir e cumprimentar as pessoas que passam por mim. Faço-o com sinceridade, porque gosto, porque me sinto bem e sou retribuída. E, em especial, faço isso frequentemente sempre que encontro pessoas idosas (quase sempre muito sós), com quem gosto de conversar e que esboçam um sorriso de orelha a orelha (só porque alguém os olhou e lhes deu um pouco de atenção).

Resumindo: para mim, a cidade e o concelho de Aveiro são quase como uma aldeia, onde quase toda a gente se conhece. Eu sinto assim!

Um abraço.

11:59 da tarde

 
Blogger Eärwen said...

Tenha sempre tempo para si meu amigo. Viva!
Aproveito para desejar-te um ótima 6a.feira.
Deixo-te pérolas incandescentes de puro carinho amigo.
16.02.07

3:17 da manhã

 
Blogger sa.ra said...

obrigada pela visita e pelo simpático comentário!

volto para te conhecer melhor!

beijo
dia mt feliz!

12:27 da tarde

 
Blogger Angela said...

Há uns tempos atrás vi um vídeo em que um homem numa cidade com um largo sorriso no rosto tentava abraçar as pessoas. Muitas pessoas se assutaram e fugiram. Penso que a maioria. Apenas algumas se prontificaram a retribuir o abraço e o sorriso. Isso revela bem o quanto receamos o contacto com o outro. Numa cidade somos praticamente todos desconhecidos e, por vezes, os nossos próprios vizinhos o são. Não há laços. E muitas vezes nem há simpatia.
Nos meios mais pequenos, as pessoas são mais afáveis pois conhecem-se. Há confiança.

Criar laços não é fácil.

Beijinho grande.

4:01 da tarde

 
Blogger veritas said...

Olá Arauto:

Que magníficas palavras, num mundo cada vez mais desumanizado, cada vez mais preenchido por rostos voluntariamente anónimos e descaracterizados...

Bom fim-de-semana.

8:28 da tarde

 
Blogger José Manuel Dias said...

A vida é o qe fazemos com o tempo que temos...Abraço

10:48 da tarde

 
Blogger José Leite said...

Arauto da ria,

Você tem o dom da observação e da exegese profunda. Gostei desta abordagem...

11:25 da manhã

 
Blogger Pé de Salsa said...

Olá caro amigo Arauto (da Ria),

No comentário acima, foi dito pelo Rouxinol de Bernardim e eu concordo totalmente que "você tem o dom de observação".

O que desde há algum tempo vinha a "adivinhar" estava correcto. Eu já tinha comentado com um amiga comum sobre a sua perspicácia e capacidade de adivinhar pensamentos.

Não repeti postagens. Apenas deixei ficar algumas.
De qualquer modo, penso continuar por aqui. E de futuro, quem sabe?

Desejo-lhe um bom fim de semana.
Um abraço e muito obrigada pela sua atenção.

6:10 da tarde

 

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