Oficial encarregado de conferir e verificar os títulos de nobreza, de declarar a paz ou a guerra e de fazer proclamações solenes.

20061014

Guerra e Ditadura

A Juventude do nosso País na década 60 e inícios de70 vivia sob dois estigmas terríveis, que eram a ditadura e a guerra colonial. Embora fossem castrantes e intimidativos, muitos deles não era por isso que deixavam de lutar contra a ditadura fascista, a guerra colonial e o capitalismo, com várias acções para tentar minar e destruir uma governação caduca e impiedosa. Alguns mataram-nos, bastantes foram presos, outros exilavam e muitos eram chamados para o serviço militar precocemente, para darem o corpo ás balas na guerra colonial. A união de todas as forças democráticas era linda, fraterna, solidária e generosa, pois se algum elemento de qualquer ideologia, ficasse em apuros (preso ou perseguido), todos se uniam para o apoiar a ele e á família nos vectores, financeiro, logístico ou moral. Todos viviam e lutavam pela mesma causa, a DEMOCRACIA. Havia referências marcantes que ajudavam a juventude a pisar caminhos, aonde a democracia, igualdade, fraternidade e camaradagem não eram palavras vãs. Inspirados nos fortes movimentos estudantis aos quais se juntou o operariado, que tinham acontecido em Paris, eclodiu a famosa crise Académica Portuguesa, que provocou tumultos, morte e muitas prisões dos elementos revoltosos. No início de 70, são recrutados para o serviço militar, estudantes que de uma maneira ou de outra, cheirassem a rebelião. A guerra colonial estava ao rubro e os Movimentos de Libertação que lutavam pela independência das ex-colónias, ganhavam cada vez mais terreno para a vitória final. Muito se escreveu sobre esta guerra, com experiências pessoais, sendo que o último livro foi da autoria do Lobo Antunes, aonde em cartas para a mulher, vai descrevendo os receios e as incertezas dos dias penosos de uma guerra injusta e sem sentido. Mas convém não esquecer, que o escritor, era oficial e médico, poderá parecer irrelevante mas a vida dele era menos má comparada com as dos soldados, furriéis e oficiais milicianos que faziam as operações no mato, que sofriam emboscadas e defendiam os acampamentos militares muitas vezes atacados. Outros haviam que ainda sofriam mais que estes, pois eram deslocados para pontos estratégicos sem condições mínimas de habitabilidade e entregues à sua sorte, pois nem populações civis tinham com eles. Passavam os dias entregues a si mesmo, à espera de um ataque ou de ordens para irem para operações, que eram transmitidas via rádio ou por mensagens secretas e codificadas. Esta juventude que foi mobilizada para a guerra, na grande maioria ficou com sérios problemas psicológicos, outros ficaram mutilados e muitos morreram. Foi uma juventude que com outros, ajudaram a eclosão do 25 de Abril. Hoje muitos de nós, ainda sofrem com os efeitos colaterais desta guerra pois todos temos, pais, irmãos ou familiares que andaram e lutaram inocentemente e contrariados, numa guerra que não lhe dizia nada, com a agravante de ter como alvo o legítimo direito à independência dos povos africanos. Hoje quando vejo partir e regressar os nossos soldados, que vão para o Kosovo, Afeganistão e Iraque (não posso deixar de me lembrar dos nossos heróis de 61 a 74) e sentir um esgar de desdém pelos choradinhos que fazem quando vão voluntariamente e principescamente pagos. Noutros tempos, pessoas como estas apelidavam-nos de mercenários. A guerra e a ditadura, marcaram uma geração que apesar de tudo ainda fez muito pelo país. Ajudou a dar-lhe a liberdade que até aí nunca eles tiveram. Hoje são anónimos, alguns exilados no seu próprio país e outros que se destacaram na Revolução dos cravos caíram no esquecimento e na ingratidão de governantes sem memória. Os pais e mães da Democracia ainda vivos no seu silencio e anonimato vivem felizes pelo seu esforço ter sido compensado e tristes por verem tantos desavergonhados amnésicos, incompetentes e ingratos em destaque, que não sabem nem querem saber o quanto custou a liberdade.

9 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Não, não é apenas meu. Leia novamente e verá.

9:09 da tarde

 
Anonymous Anónimo said...

Ah! que angústia!

4:27 da manhã

 
Blogger Saramar said...

Arauto, boa noite.

Agora entendi um poema que li em outro blog, também português, em que se falava dos soldados que retornaram e que foram execrados pelos cidadãos. Não entendi nada, porque não me lembrei das guerras coloniais das quais os livros de história daqui pouco ou falam.
Imagino a tristeza, a miséria, os traumas que estes pobres meninos passaram lutando uma guerra que não era sua e da qual, provavelmente, se envergonhavam.
A crueldade dos homens os aproxima dos monstros mitológicos, eu creio.

beijos e um bom domingo para você.

4:32 da manhã

 
Blogger Al Berto said...

Viva Arauto:

É, de facto, um grande motivo de orgulho ter pertencido á juventude que ajudou a fundar a 3.ª República.

Um abraço,

12:59 da tarde

 
Blogger Luís said...

É uma geração a quem, de facto, as gerações subsequentes como a minha têm muito que agradecer. Quanto aos militares que partem para o Kosovo ou Afeganistão: o papel deles também é digno de mérito...

8:48 da manhã

 
Blogger Ana P. said...

Concordo plenamente com o que escreveste, mas a liberdade que tanto se ansiava na altura, trouxe-nos a este exacto ponto, onde nos situamos agora.
Não me sinto livre, e acho que muitos milhares de portugueses também não se sentem livres.
Lutamos pela DEMOCRACIA= poder do povo. Mas o povo não tem poder, infelizmente o povo, que foi o que deu o corpo ao manifesto apenas lutou, para que os "senhores" hoje pudessem usufruir das regalias que por aí andam. Quando digo "senhores", refiro-me aos senhores governantes e todos os seus aliados, porque esses sim, vivem á grande e á francesa á custa do povo...

11:24 da manhã

 
Blogger Angela said...

Muitos lutaram por causa da ditadura e depois acabaram por lutar contra ela para implementar a democracia. E para quê? Para não ter praticamente retirado nada de positivo das colónias e para abrir portas a que democracia?
Uma democracia a que muitos não souberam dar valor e não souberam aproveitar!
Acho que muitos pensaram que a democracia seria sinónima de total liberdade. Só que para se ser livre, há que respeitar a liberdade dos outros!
No entanto, obviamente que a ditadura não seria uma melhor situação! Mas duvido que esta seja a democracia por que tantos lutaram...

Quanto ao meu blog, sinceramente não sei o que se passa. Só se tiver a ver com o facto de eu ter inserido música! Porque eu deixo sempre a porta bem aberta para poder receber toda a gente!!!

Beijinhos.

4:02 da tarde

 
Blogger Al Berto said...

Viva Arauto:

Vim desejar-te um óptimo fim de semana.

Um abraço,

6:44 da tarde

 
Blogger Al Berto said...

Viva Arauto:

Vim desejar-te um óptimo fim de semana.

Um abraço,

6:44 da tarde

 

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