A Juventude do nosso País na década 60 e inícios de70 vivia sob dois estigmas terríveis, que eram a ditadura e a guerra colonial. Embora fossem castrantes e intimidativos, muitos deles não era por isso que deixavam de lutar contra a ditadura fascista, a guerra colonial e o capitalismo, com várias acções para tentar minar e destruir uma governação caduca e impiedosa. Alguns mataram-nos, bastantes foram presos, outros exilavam e muitos eram chamados para o serviço militar precocemente, para darem o corpo ás balas na guerra colonial.
A união de todas as forças democráticas era linda, fraterna, solidária e generosa, pois se algum elemento de qualquer ideologia, ficasse em apuros (preso ou perseguido), todos se uniam para o apoiar a ele e á família nos vectores, financeiro, logístico ou moral. Todos viviam e lutavam pela mesma causa, a DEMOCRACIA. Havia referências marcantes que ajudavam a juventude a pisar caminhos, aonde a democracia, igualdade, fraternidade e camaradagem não eram palavras vãs.
Inspirados nos fortes movimentos estudantis aos quais se juntou o operariado, que tinham acontecido em Paris, eclodiu a famosa crise Académica Portuguesa, que provocou tumultos, morte e muitas prisões dos elementos revoltosos. No início de 70, são recrutados para o serviço militar, estudantes que de uma maneira ou de outra, cheirassem a rebelião.
A guerra colonial estava ao rubro e os Movimentos de Libertação que lutavam pela independência das ex-colónias, ganhavam cada vez mais terreno para a vitória final.
Muito se escreveu sobre esta guerra, com experiências pessoais, sendo que o último livro foi da autoria do Lobo Antunes, aonde em cartas para a mulher, vai descrevendo os receios e as incertezas dos dias penosos de uma guerra injusta e sem sentido. Mas convém não esquecer, que o escritor, era oficial e médico, poderá parecer irrelevante mas a vida dele era menos má comparada com as dos soldados, furriéis e oficiais milicianos que faziam as operações no mato, que sofriam emboscadas e defendiam os acampamentos militares muitas vezes atacados. Outros haviam que ainda sofriam mais que estes, pois eram deslocados para pontos estratégicos sem condições mínimas de habitabilidade e entregues à sua sorte, pois nem populações civis tinham com eles. Passavam os dias entregues a si mesmo, à espera de um ataque ou de ordens para irem para operações, que eram transmitidas via rádio ou por mensagens secretas e codificadas. Esta juventude que foi mobilizada para a guerra, na grande maioria ficou com sérios problemas psicológicos, outros ficaram mutilados e muitos morreram. Foi uma juventude que com outros, ajudaram a eclosão do 25 de Abril. Hoje muitos de nós, ainda sofrem com os efeitos colaterais desta guerra pois todos temos, pais, irmãos ou familiares que andaram e lutaram inocentemente e contrariados, numa guerra que não lhe dizia nada, com a agravante de ter como alvo o legítimo direito à independência dos povos africanos. Hoje quando vejo partir e regressar os nossos soldados, que vão para o Kosovo, Afeganistão e Iraque (não posso deixar de me lembrar dos nossos heróis de 61 a 74) e sentir um esgar de desdém pelos choradinhos que fazem quando vão voluntariamente e principescamente pagos. Noutros tempos, pessoas como estas apelidavam-nos de mercenários. A guerra e a ditadura, marcaram uma geração que apesar de tudo ainda fez muito pelo país. Ajudou a dar-lhe a liberdade que até aí nunca eles tiveram. Hoje são anónimos, alguns exilados no seu próprio país e outros que se destacaram na Revolução dos cravos caíram no esquecimento e na ingratidão de governantes sem memória. Os pais e mães da Democracia ainda vivos no seu silencio e anonimato vivem felizes pelo seu esforço ter sido compensado e tristes por verem tantos desavergonhados amnésicos, incompetentes e ingratos em destaque, que não sabem nem querem saber o quanto custou a liberdade.